A violência que atinge os motoristas de aplicativos cresce consideravelmente na Bahia. Entre janeiro e agosto deste ano, sete desses profissionais foram agredidos [roubos seguidos de morte]. O número de mortes mais que triplicou em relação ao mesmo período do ano passado, quando dois motoristas morreram após serem assaltados em serviço. O reflexo desse cenário é que os profissionais têm pavor de ir trabalhar sem saber se voltarão para casa.

Em apenas quatro dias de agosto, dois motoristas morreram enquanto trabalhavam em Salvador e na Região Metropolitana. De acordo com levantamento realizado pelo Sindicato dos Motoristas de Aplicativos da Bahia (Simactter), os sete furtos ocorridos na Bahia nos oito meses do ano foram registrados em Salvador (2), Simões Filho (1), Itapetinga (1), Feira de Santana (2) e Ilhéus (1).

A última vítima foi Florisvaldo Rodrigues Filho, 46 ​​anos, morto a tiros durante uma corrida na noite de domingo (14), na Av. Pinto de Aguiar. Antes do desfecho trágico, o motorista, que trabalhava com aplicativos há quatro anos, já havia sido vítima de roubo pelo menos duas vezes, segundo uma sobrinha. “Já o haviam roubado, levaram o celular, o dinheiro… Ele morava em Doron, mas viajou por toda Salvador”, disse Iani Sued Rodrigues. Florisvaldo deixou esposa e quatro filhos, dois ainda pequenos, um com 3 meses e outro com 3 anos.

Quatro dias antes do assassinato de Florisvaldo, o colega motorista Ednoel Santos Moura, 40, foi morto a tiros durante um tiroteio entre supostos assaltos e a Polícia Militar, na rodovia CIA-Aeroporto. Para o diretor do Simactter, Lucas Magno, os dois casos ocorridos na sequência mostram um aumento da insegurança no cotidiano dos profissionais.

“A violência vem se espalhando a cada dia e sabemos que o número de policiais que existem hoje não é suficiente para atender a todos os habitantes de Salvador. Infelizmente, os ladrões estão migrando dos furtos de ônibus para o aplicativo porque acreditam que os motoristas carregam dinheiro e a maioria só usa cartão de crédito”, diz Lucas Magno.

Ainda de acordo com o diretor do Simactter, criminosos se aproveitam do furto de celulares na rua e usam os aparelhos para roubar motoristas. “Para aceitar a viagem, olhamos a nota do passageiro, mas hoje existe um tipo de roubo em que os ladrões levam o celular roubado para solicitar a viagem. Então, o passageiro pode ter uma nota boa, mas quem vai atrás é o ladrão”, explica Lucas Magno.

O próprio diretor garante que já sofreu duas tentativas de assalto em seus cinco anos como motorista. “Uma vez o criminoso estava carregando uma arma de brinquedo e brigamos fisicamente. Na outra, joguei o carro ao lado de um veículo e consegui me libertar”, lembra.

Os roubos também estão aumentando no estado.

Pelo menos dois motoristas de aplicativo são vítimas de furto por dia na Bahia, segundo levantamento do sindicato da categoria. Entre janeiro e julho deste ano, 600 vítimas de roubos ou furtos foram registradas nos 24 municípios onde trabalham motoristas com aplicativos no estado. O número leva a uma média de 2,8 visitas por dia. No mesmo período do ano passado, foram 551 casos, 2,5 notificações diárias.

Outro dado relevante informado pelo sindicato é que 90% dos crimes ocorrem em viagens solicitadas por suspeitos disfarçados de passageiros. Exemplo disso é a situação enfrentada pelo motorista Eliomar Cunha, 34 anos, quando fazia uma viagem do bairro de São Marcos até Sete de Abril.

Eliomar carregava quatro pessoas e foi entregue ao passar pelo estádio Barradão. “Eles estavam vestidos de músicos, com instrumentos, como se tivessem saído de um bar daquela região”, detalha a vítima. O motorista conseguiu recuperar o carro, que havia sido roubado pelos suspeitos, no mesmo dia. Ele, no entanto, conseguiu registrar a ocorrência e denunciar o caso à Uber, que, por sua vez, não teria prestado assistência. “É um jogo em que a balança pende em apenas uma direção: por um [a operadora] é apenas o bônus; Para o outro [os motoristas]apenas a carga”, reclama.

O presidente da Simactter, Átila do Congo, atribui a elevada taxa ao que considera ser uma baixa procura, por parte das transportadoras por candidatura, para a adesão de passageiros. “Não adianta colocar 2 milhões de policiais militares. Você não conseguirá resolver o problema de segurança com tantos drivers por aplicativo. Principalmente porque a empresa afrouxa todo o cadastro do usuário e isso é um prato cheio para o ladrão, enquanto o motorista tem toda uma burocracia”, reclama.

Por meio de nota, a Uber lamentou o ocorrido e destacou que, em relação ao caso levantado pela denúncia, “a conta utilizada para solicitar a viagem foi desativada assim que a empresa tomou conhecimento do episódio”. A empresa disse ainda que foca na prevenção e que o app tem um recurso para verificar os documentos dos usuários. “Ferramenta inédita no Brasil, por meio da qual alguns usuários que optam por pagar a primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados sobre a forma de pagamento digital, devem apresentar documento de identidade”, diz o texto.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) disse que reforçou as ações voltadas à prevenção de crimes contra motoristas por aplicativo e taxistas. Ele também afirmou que os bombardeios para evitar roubos foram intensificados. O SSP disponibiliza, por meio da Superintendência de Telecomunicações, um número exclusivo para comunicação imediata de furto ou roubo para motoristas profissionais, permitindo que a polícia acione e aja com mais agilidade.

Para o professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Horácio Hastenreiter, órgãos de segurança pública e empresas de transporte de aplicativos devem buscar uma solução conjunta. “Por que temos críticas à nossa segurança pública e tantos elogios durante o carnaval baiano? Por que [o carnaval] É um trabalho que se constrói a várias mãos, com muito aprendizado e muita interação entre todos os interessados. A segurança pública é, por si só, um problema extremamente complexo que exige maior interatividade entre os atores”, ressalta.

Por Correio.