O Censo Demográfico do IBGE de 2022 mal começou e os recenseadores, responsáveis por obter os dados dos cidadãos em entrevistas por toda a Bahia, já relatam problemas. Desde o dia 1º agosto, quando a pesquisa começou, os trabalhadores afirmam lidar com situações inesperadas como o não pagamento referente ao setor de coletas, a ausência do auxílio-transporte para locomoção e até o pagamento valores abaixo do que era esperado. Além disso, há questionamentos sobre a segurança do trabalho.
O resultado do acúmulo de problemas é uma debandada dos profissionais que, mesmo concursados, preferem abrir mão do trabalho que conquistaram. Isso porque, dos 12.485 recenseadores recrutados pelo IBGE, 571 já foram desligados do serviço em menos de um mês, o que representa 4,6% do efetivo nas ruas. Dos desistentes, apenas sete saíram por decisão do órgão até a manhã de sexta-feira (19).
Várias queixas – A atitude de pensar até em uma greve para os profissionais vem da impossibilidade de continuar o trabalho com os problemas relatados. Um recenseador, que prefere não se identificar, explica por que acredita que o IBGE está em atraso com ele e como isso afeta seu orçamento.
“Nós somos pagos por setores. Quando completamos o número de residências estipuladas para aquele setor, precisamos receber. Eu já finalizei o primeiro, não recebi o referente e já estou no segundo. Sem o pagamento, não tenho como continuar porque contava com esse dinheiro para quitar contas”, explica ele.
Superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia diz que a possibilidade do instituto estar em atraso é baixa. De acordo com ele, a partir do momento que o recenseador completa a coleta em um setor, o pagamento não é automático e há um período para análise do trabalho. “Existe uma supervisão que pode demorar até 15 dias para o efetivo pagamento. O trabalho feito é observado por um supervisor com base em uma sistemática, e isso leva tempo. Estamos no dia 20 e [o IBGE] só poderia estar atrasado caso o trabalho fosse entregue no dia 5″, explica Urpia.
Outra reclamação dos recenseadores é quanto ao auxílio-transporte. Segundo Luana, 31 anos, profissional que opta por não revelar o sobrenome, o IBGE deveria pagar R$ 9,80 por dia para locomoção, o que resultaria em R$ 49 por semana. Porém, além do auxílio estar atrasado, ela afirma ter recebido apenas por uma semana, e de maneira retroativa.
Sobre isso, Urpia afirma que a demora para o depósito do auxílio é comum em um primeiro momento. “O IBGE tem um tempo para efetivar o pagamento entre o momento em que o recenseador assume o setor ou devolve a produção feita. Para essa primeira leva, estamos fazendo um pagamento dividido, sem pagar o valor inteiro por conta das desistências e trocas, que demandam uma devolução dos valores e geram uma série de trabalhos extras”, sustenta o superintendente, garantindo que os percentuais vão aumentar e chegar ao recenseador de maneira integral.
Há também demandas por uma ajuda de custo relacionada à alimentação dos recenseadores. No entanto, o instituto afirma que isso não está previsto em contrato. Já Lucas Ferreira, da União dos Recenseadores de Salvador, aponta que foi prometido algo diferente aos profissionais.
“O que foi passado para nós foi uma ajuda de custo que não está descrita como transporte, alimentação ou qualquer outra coisa. Durante o treinamento, questionamos se teria uma ajuda de custo para água e alimentação. Prometeram uma ajuda, mas não disseram qual seria esse valor e até agora estamos esperando”, relata o representante.