
Câmara de Ilhéus rescinde contrato com BK Bank após investigações nacionais
A Câmara Municipal de Ilhéus anunciou nesta quarta-feira (03) a rescisão do contrato firmado com a empresa BK Bank, responsável pela gestão do vale-alimentação dos servidores do Legislativo. A decisão foi comunicada oficialmente pelo presidente da Casa, vereador César Porto, durante sessão ordinária.
Segundo Porto, a medida foi adotada de forma unilateral, como forma de resguardar o Legislativo diante das investigações que envolvem a fintech em âmbito nacional. “A Câmara não vai correr riscos. Assim que uma nova empresa for contratada, todos os valores dos servidores serão creditados integralmente. Também estudamos a possibilidade de pagar o benefício em contracheque, mas essa hipótese depende de avaliação do setor competente em razão do índice de pessoal”, afirmou.
BK Bank e a investigação nacional
A empresa BK Instituição de Pagamento S.A., popularmente conhecida como BK Bank, está no centro de uma apuração conduzida por autoridades federais, que a apontam como braço financeiro de facções criminosas, entre elas o Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com as investigações, a fintech teria desempenhado papel estratégico na captação de recursos ilícitos e na aquisição de empresas ligadas ao esquema. O mecanismo mais utilizado era o chamado sistema de “contas bolsão”, no qual valores de clientes diferentes eram reunidos em uma mesma conta, dificultando o rastreamento e criando obstáculos ao sistema de combate à lavagem de dinheiro.
O volume de operações atípicas movimentadas pela instituição é expressivo: cerca de R$ 17,7 bilhões em créditos e débitos vinculados a empresas relacionadas ao PCC. Parte relevante dessas transações ocorreu na filial de Ribeirão Preto, ligada às atividades de usinas sucroalcooleiras e distribuidoras de combustíveis.
Além disso, a BK teria servido como canal para uma rede de postos que movimentou mais de R$ 54 bilhões, mas declarou ao fisco apenas 0,17% em tributos, percentual considerado incompatível para empresas do regime de lucro real.
Grandes operações financeiras sob suspeita
Entre os exemplos citados pelos investigadores, está a Usina Itajobi, que utilizou a fintech para transferir R$ 100 milhões ao fundo Radford, administrado pelo Banco Genial. Já o Fundo de Investimento Mabruk II teria usado a BK para ocultar a origem de aproximadamente R$ 250 milhões na aquisição de usinas.
As apurações também apontam conexões financeiras com pessoas próximas a Mohamad Hussein Mourad, um dos nomes investigados. O primo dele, Himad Abdallah Mourad, teria recebido mais de R$ 20,8 milhões pela BK em 2023. A Insight Participações S.A., empresa ligada a Himad, aparece ainda como beneficiária em registros internos, com R$ 18,5 bilhões em créditos e débitos.
Outro ponto levantado pelos investigadores foi a relação entre a BK e a Bankrow Instituição de Pagamento S.A.. Ambas compartilham origem societária, sede em Campinas e até procurações cruzadas em contas bancárias, o que reforça a suspeita de interligação nas operações financeiras.
Impacto para os servidores
Com a rescisão contratual, a Câmara de Ilhéus estuda alternativas para garantir a continuidade do benefício dos servidores. A expectativa é que, assim que a substituição da empresa for definida, o crédito seja restabelecido sem prejuízos.
“Nosso compromisso é assegurar que nenhum servidor seja prejudicado. A decisão visa proteger o Legislativo e manter a legalidade e transparência nos processos”, reforçou o presidente César Porto