Estado aguarda aplicação da segunda dose em pessoas com menos de 40 anos para adotar medida.

Depois de autorizar shows para até mil pessoas com exigência de imunização completa, o governador Rui Costa reiterou que o passaporte de vacinação também será obrigatório em breve para acesso a espaços coletivos, como estádios e academias.

A adoção ampla do passaporte de vacinação tem sido prometida pelo chefe do Palácio de Ondina há pelo menos um mês, mas ainda não há data para ser implementada, já que boa parte da população ainda não recebeu a segunda dose da vacina contra a Covid-19.

“Nós vamos exigir o chamado passaporte da vacina para acesso a locais públicos. Esta medida não foi tomada ainda porque quem tem menos de 40 anos ainda não tomou a segunda dose. Queremos acelerar a vacinação para que as flexibilizações sejam feitas, mas com o devido cuidado”, escreveu o governador no Twitter.

Já em vigor, a liberação para shows – comemorada pelo setor de entretenimento – ainda é vista com preocupação por especialistas da Saúde, mesmo com a exigência de vacinação. Em decreto publicado no último sábado, 11, o governo da Bahia estabelece que artistas, público, equipe técnica e colaboradores devem comprovar que tomaram as duas doses de vacina ou dose única, apresentando o cartão de vacinação ou o certificado do aplicativo Conecte SUS do Ministério da Saúde.

Para o professor Carlos Brites, coordenador de pesquisas sobre vacinas da Covid-19 na Bahia, além do esquema completo de imunização, deveria haver também a exigência de um teste recente. “O ideal seria a vacinação e um teste negativo recente. Você poderia casar as duas coisas, já que nenhuma vacina é 100% eficaz”, aponta.

O infectologista comemora a queda nos números de casos e mortes, mas alerta para o risco de uma “pressa excessiva em liberar tudo”. “Acho que o momento ainda é de cautela, em um cenário que exige ainda tranquilidade e certa parcimônia nas medidas de flexibilização. Fazer uma abertura cautelosa, porque se entrarmos muito rápido, pode haver um surto de grandes proporções”, avalia.

A infectologista Clarissa Ramos também vê risco maior com aglomerações em shows e destaca que ainda não se sabe precisamente o impacto da circulação da variante delta. “Venho atendendo alguns pacientes com Covid e quase todos eles vacinados com as duas doses. Mesmo com as duas doses, deve ser mantido o distanciamento e o uso de máscaras. A vacina é de extrema importância, mas precisamos bater nessa tecla”, diz.

Já integrantes do setor de entretenimento veem na liberação dos shows para mil pessoas um “horizonte”, com possibilidade de públicos maiores nos próximos meses. “Acho que a gente teve um pouco de atraso nessa retomada, mas o governador soube ser o grande protagonista e pulou um degrau, indo para mil pessoas. Eu acho que [o mais importante], mais do que 500 ou mil pessoas, é você começar a ter um horizonte, conseguir se programar. Se hoje está liberado para mil, do jeito que está indo a vacinação, a gente consegue enxergar um Réveillon para 3,5 mil, 4 mil pessoas, e a possibilidade real do Carnaval aberto”, afirma o produtor Wagner Miau.

 

Apesar do último decreto municipal não citar a obrigatoriedade da vacinação no seu protocolo para realização de eventos, deverá valer a exigência prevista no decreto estadual, segundo o advogado e professor Pedro Sales. “Um decreto não invalida o outro. Se um dos entes determina, e as normas abrangem todos os municípios, então significa que a gente deve observar o mais restritivo, independentemente das normas editadas em cada município. […] É como se você somasse as regras. Todos os entes da Federação podem adotar medidas; então se um deixa de adotar, não impede que os outros adotem”, aponta Sales.

Com 2,1 mil casos ativos, a Bahia tem o patamar mais baixo do indicador desde abril do ano passado. A taxa de ocupação de leitos de UTI adulto para Covid é de 29% no estado e 25% na capital.